
Passaram apenas cinco segundos, tenho saudades. Foi um único momento e relembro-o a cada instante. Tenho saudades. Sou simples e sem valores, tenho saudades tuas. Tudo o que digo e escrevo parece tão falso, irremediavelmente banal, tudo o que digo e escrevo parece tão oco e incompleto… o refugio daqueles que nunca tiveram necessidade de se esconder, em gestos e sugestões, em ecos e ilusões. Entoar a voz e endireitar o corpo, magro e descuidado, de um futuro que nunca tive e não vejo como ter porque a culpa não é daquilo, é disto. Disto que abraço como meu ainda que profanado, disto que respeito como Deus ainda que descrente. De tudo o que vi e costumava ver só me sobra as memórias de infância, aquelas que apago a cada gesto. De tudo o que ainda acredito sobram as míseras sensações inventadas por mim mesmo, e porque agora percebo que tudo é falso e eu não passo de uma ideologia perdida no tempo e no espaço.
Sorrisos e abraços, tentativas de inserção. Porque quando vejo quem amo me escondo em novos sorrisos e abraços.
Transporto comigo ao fim do dia a dor de um mundo, o meu mundo, pequeno e irrisório. Porque a ideia no fim é sempre a mesma mas sem conclusão. Rejeitei o amor em tempos, disse que era de outra espécie, de outras finalidades e afins, disse tudo o que um “saboteur” conseguiria dizer e porque… porque não o entendia. Porque a cada palavra me afasto mais e mais do que eu sei que seria o ideal, o certo, o correcto. E agora? Agora mostro-me e desenho feridas obscuras, feridas, feridas e outras coisas mais, sem intenções e com intenções, confusão permanente na minha mente.
E é agora que elas surgem, as metáforas, as eloquentes formas de amar o passado o presente e o futuro, é agora que me lembro que costumava pensar que não havia futuro a seguir a nós, é agora que me olho e vejo como é mentira, é agora que me lembro de que a musica ao fundo do corredor não era para mim, é agora que me lembro que tudo não passa de uma fase, é agora que me sinto como à anos. Aquando da primeira descoberta, o espelho. Lembras-te da primeira vez? O espelho não se partiu, estavas ali e ali ficaste horas a fio, o primeiro arrepio, a primeira sensação de armadilha. Não pertences aqui, foste rejeitado e não te lembras do antigo, do anterior, da posição fetal ao descalabro da vida. Eu pedi algo mas não foi isto, não sei e nunca vou saber. Eat the mushroom and you will enter the door.
E o testemunho vai-se escrevendo em palavras menos próprias. Vai-se arrecadando segundos atrás de segundos em pequenas lavagens cerebrais. Sou tão estúpido e insensível, frio e frio e frio e frio e frio e frio. Tão estúpido e tão frio. Tudo calculado, não devia falhar, não devia mas tem que. Tem que falhar, preciso que falhe… ou o que seria de mim quando tudo corresse bem? Não posso deixar, mas…
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